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VOLTAR A “BATER NO CEGUINHO”… NESTE CASO, NA CHUPETA!

VOLTAR A “BATER NO CEGUINHO”… NESTE CASO, NA CHUPETA!

A primeira coisa que comprei quando soube que estava grávida foi uma chupeta. A sério. Nessa altura ainda não estava consciente do que te vou contar aqui. – Mas felizmente aprendi antes de a minha bebé nascer! – À chupeta juntei uns babetes pequeninos, embrulhei tudo numa caixa, e ofereci como presente de Natal à minha enteada. Foi assim que lhe demos a novidade de que o seu desejo de ter uma irmã ia ser concretizado.


Lembrei-me da chupeta porque somos ensinadas de que é um item essencial no enxoval do bebé. Existem de diferentes materiais, cores, desenhos, formas, enfim, é um mundo. Também não falta aquela chupeta a imitar dentes, um bigode ou uns lábios carnudos. Acreditamos que é necessária assim que o bebé nasce. Se não fosse, porque constaria na lista do Hospital sobre “o que levar para a maternidade”? Infelizmente, muitos profissionais de saúde que contatam contigo nesta fase não estão sensibilizados para os seus malefícios e ao sugerirem o uso da chupeta, não te informam do que daí pode advir.


Qual o boneco que vem acompanhado de umas mamocas, ao invés de uma chupeta? Inconscientemente enquanto consumidores, e conscientemente enquanto indústria, passamos a mensagem de que todo o bebé precisa mesmo de uma chupeta. Não é verdade. É das mentiras melhor articuladas da indústria da puericultura. Já está embrenhada na nossa cultura de uma forma tão profunda que quem diga o contrário é, por vezes, apelidado de fundamentalista. O que não deixa de ser um elogio, porque é importante focar no fundamental para o crescimento correto dos nossos filhos, e sobretudo ter consciência das nossas escolhas enquanto pais. Portanto, obrigado. E sim, continua a ser necessário voltar a “bater no ceguinho”… neste caso, na chupeta!


QUAL O PROBLEMA DA CHUPETA?


Na verdade não é um problema. São vários. Mas vamos por partes.


A chupeta foi criada nos moldes atuais, em meados do século XX, como alternativa para tranquilizar o bebé, quando a mama da mãe não estivesse disponível. O que acontece nos dias de hoje, na verdade, é que apesar de a mama da mãe estar disponível, a chupeta é usada indiscriminadamente como solução de primeira linha face ao choro e à irritabilidade do bebé, não cumprindo com o seu propósito primário de ser reservada para situações esporádicas.


A chupeta é semelhante à mama da mãe, o que é bastante útil nessas situações esporádicas e temporárias (como por exemplo, na estimulação da sucção em recém-nascidos prematuros) mas não é igual e, ao longo do tempo, concluiu-se que os problemas associados à amamentação e ao desenvolvimento oral e bucal são inegáveis. É por isso que o seu uso é, cada vez mais, desaconselhado. É natural que quanto mais tempo passe e mais estudos se façam a esse respeito, mais informações sejam obtidas sobre as vantagens e desvantagens da sua utilização.


A oferta da chupeta pode ser despoletada por dificuldades na amamentação, incentivo incorrecto de profissionais de saúde, difícil conciliação com a vida profissional e familiar, ou por normas e pressão sociais. Associado a estas causas está, em grande parte das situações, a falta de conhecimento no que diz respeito à saúde, crescimento e desenvolvimento do seu bebé.


CHUPETA E AMAMENTAÇÃO


Em relação à amamentação, a chupeta pode contribuir para o bebé fazer confusão de bicos e recusar a mama. A mãe não sabe - como haveria de saber? - que a maneira que o bebé agarra a chupeta é completamente diferente do modo como deve abocanhar a mama, para realizar uma mamada eficaz. Ele agarra a chupeta com boca de peixinho, e a sua língua fica numa posição mais inerte, não favorável à amamentação. Em contrapartida, o bebé abocanha a mama com uma boca de tubarão, mais aberta, sendo essencial a movimentação da língua para a massagem da mama e a saída de leite.


A confusão de bicos consiste em abocanhar a mama da mãe como se fosse a chupeta, atrapalhando a aprendizagem do bebé. Fazer sucção na chupeta é mais fácil, por isso ele tenta fazer essa sucção na mama, mas como o leite não sai com fluidez que o satisfaça, acaba por chorar, por rejeitar a mama, e assim começa o processo de desmame precoce não desejado nem pela mãe, nem pelo bebé.


Se amamentar for importante para ti, podes estar a comprometer esse sonho sem saberes, sem teres a mínima noção disso. Quando o bebé tem um comportamento errático e começa a rejeitar a mama, todos os cenários te passam pela cabeça – “não tenho leite suficiente” ou “o meu leite não é bom” – exceto que este fator externo (chupeta) pode ser a causa (total ou parcial) dessa recusa.


PARA ALÉM DA AMAMENTAÇÃO


A importância da amamentação é, cada vez mais, reconhecida. O leite materno é o melhor alimento para o bebé, quer a nível nutricional, quer em relação ao sistema imunológico na prevenção contra doenças infecciosas, alérgicas, respiratórias e gastrointestinais.


O aleitamento materno também satisfaz as necessidades emocionais do bebé, fortalecendo o vínculo, pois enquanto faz sucção na mama, o bebé tem e recorda sensações familiares que já tinha dentro do útero: ouve os batimentos cardíacos da mãe, a sua respiração, e sente o seu cheiro. Tudo isto lhe transmite calma e segurança, importante para o seu desenvolvimento emocional. Se esta sucção for continuamente substituída pela sucção na chupeta, estamos a diminuir fortemente essa componente.


Outro aspeto importante é que a chupeta, ao prejudicar a amamentação, prejudica também, por consequência, outras funções desenvolvidas pelos movimentos realizados durante a amamentação, como a respiração, a mastigação, a deglutição e a fala.


Amamentar é o melhor exercício para o correto desenvolvimento da face e das estruturas bucais, onde, por exemplo, executa cerca de 2000 a 3500 movimentos de mandíbula. Ao passo que, com a chupeta, estes exercícios são bem mais reduzidos em quantidade e feitos de forma menos correta.


Os bebés evoluem mediante dois estímulos: as características genéticas herdadas dos pais e as influências externas. O tipo de parto, os hábitos quotidianos, a alimentação são exemplos desses estímulos externos. Portanto, é importante facilitarmos o desenvolvimento do bebé ao disponibilizar os estímulos corretos para uma perfeita função do seu organismo.


E O DEDO NA BOCA?


É uma questão que nos colocam muitas vezes. “Porque é que o meu bebé está a mamar e coloca o dedo na boca durante a mamada?” O bebé conhece o mundo pela boca. Sugar é fonte de prazer e ajuda-o a reconhecer e explorar o seu próprio corpo. É mesmo assim. Muitos bebés já sugavam as mãos/dedos ainda na barriga da mãe.


Na dúvida sobre ser um sinal de fome ou não, deves oferecer mama e ver se realmente se alimenta. Se não tiver fome, é mesmo a sua necessidade de sugar, e está tudo bem, não deve ser motivo de preocupação. Um bebé amamentado em livre demanda naturalmente acabará por se desinteressar do dedo/mãos até por volta dos 12/24 meses. A sua necessidade oral continuará a ser satisfeita pela maminha. E não, a chupeta não é melhor que o dedo.


Mais importante que usar ou não usar chupeta, é ter consciência dos aspetos negativos, que normalmente te são ocultados, e tomar decisões baseadas nisso. Cada família sabe o que é melhor para si. Dou-te um exemplo. Decidi, desde o nascimento, não oferecer chupeta à minha filha. Consegui estabelecer a amamentação e satisfez as suas necessidades emocionais através da sucção na mama. A chupeta não foi substituta da mama ou do dedo, mas com a redução da mama por iniciativa dela, ao seu tempo, acabou por usar a chupeta como mordedor e indutor do sono. Depois de crescida é que se apegou à chupeta. Se foi o que eu idealizava? Não. Mas todas as decisões foram e são tomadas de modo consciente quanto às repercussões que possam vir a acontecer.


Não sigas vendada por mentiras ou de olhos fechados pelas mãos dos outros. Informa-te ainda grávida. Se queres amamentar, escolhe ser acompanhada antes do teu bebé nascer para aprenderes sobre as várias influências negativas à amamentação que te esperam nas curvas da maternidade.


Sofia Roque Grilo, Equipa Leva-me ao Colo

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