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VANOS FALAR SOBRE SEXO

VANOS FALAR SOBRE SEXO

A maternidade é o processo de recalibração mais longo e transformador que existe. Descobrir a mulher em que te tornas, depois de ser mãe, é um grande desafio que atravessa fronteiras de tempo, de circunstâncias, de personalidades. De uma forma ou de outra, qualquer mãe sente que muda. É impossível permanecer impávida a tal transformação.


A tua visão do mundo muda. Pensas em coisas que antes talvez não pensasses tanto. Alteras prioridades. Deixas de procurar tanta validação nos outros. Ficas mais dona de ti. Afinal, se não fores tu, quem será? Mas também sentes solidão. Contudo, nunca estás só. Desejas descansar sozinha. Mas raramente consegues.


A mulher (de ninguém, apenas tu enquanto pessoa), a amiga, a filha, a irmã, a esposa, a namorada, a profissional... todas as tuas versões ficam para segundo plano. Mãe és, mãe serás. Mas não apenas. Não somente. Tens que lidar com tudo, as 24 horas não te chegam. Depreendem que é assim e tem que ser assim, sempre foi e sempre será. São coisas de mulher, responsabilidades de mulher, é o papel da mulher. Diz a sociedade.


Mas quando nasce uma mãe, também nasce um pai. Só que ao pai, a sociedade não exige tanta responsabilidade, tanto papel ativo. Tantos pais que continuam com a vida de "solteiro" e a mãe fica com tudo às costas? "Mas há muitos pais que já ajudam". O pai não ajuda. O pai tem o papel de pai. Já ouviram alguém dizer o oposto? "Há muitas mães que ajudam." Coitadas, eram logo crucificadas, mandadas para a fogueira do julgamento. O pai não, o pai é normal.


No meio de toda esta pesada metamorfose a tantos níveis da tua vida, individualmente e nas tuas relações, como fica a tua sexualidade? Como se altera a rotina sexual enquanto casal após o nascimento do bebé, e nos meses e anos que se seguem? Sim, vamos mesmo falar sobre sexo!


Nasceu uma mãe e um pai, mas nem a mulher nem o homem morreram. Estão lá e têm que aprender a lidar com todas as mudanças, incluindo a vida sexual. Ter filhos é realmente uma prova de fogo para o casal, e este campo pode ser bastante polémico.


DESINTERESSE SEXUAL DA MULHER


Depois de ser mãe, a mulher vira santa e Deus nos livre de manifestar os seus desejos e loucuras. Para procriar e aumentar a natalidade, tudo certo, é o papel da mulher, mas quando a mulher-mãe fala de prazer sexual de forma clara e explícita... não parece muito adequado socialmente. Pois claro, ainda é tabu.


Nos meses que se seguem ao pós-parto as hormonas lideram, mandam e desmandam. Um frenesim que se pode manifestar por falta de interesse total no sexo. A mulher está biológica e psicologicamente ligada ao seu recém-nascido. Apesar de já estar cá fora, ainda são um só e o grau de dependência do bebé em relação à mãe é astronómico. Pode parecer excessivo em momentos que testam a tua resiliência, mas este estado de simbiose é necessário para o saudável desenvolvimento do bebé, no imediato e depois com projeção ao longo da sua vida.


Assim, é natural que o desejo sexual da mulher não esteja no top três das suas prioridades. Todas as suas energias estão focadas na maternidade. Com a alta demanda do bebé, a sobrecarga diária das tarefas domésticas, o insuficiente apoio do pai, os consequentes ressentimentos e desentendimentos que daí possam advir, as possíveis situações familiares e sociais não tão positivas, e sei lá mais o quê… o desinteresse sexual da parte da mulher que era apenas momentâneo, pode-se estender por muito mais tempo do que seria esperado.


DESINTERESSE SEXUAL DO HOMEM


O desinteresse sexual do homem após o nascimento do bebé também é muito comum. Muitas vezes, nem sabe bem qual o seu papel como pai, e sente-se deixado de lado pela mulher, em relação ao novo elemento da família. “Eles são um só, que função tenho eu no meio de tudo isto?” Duas coisas podem acontecer. Uma delas é o homem afastar-se da díada mãe-bebé, podendo até sentir rejeição e ciúmes não consciencializados e assumidos. Outra coisa é deixar de ver a sua namorada/esposa como mulher, e passar a vê-la apenas como mãe. Em ambos os cenários, o seu desejo sexual é afetado.


COMO RESOLVER O PROBLEMA?


Vocês podem ficar tão imersos na rotina da casa, nos cuidados com os filhos, nas responsabilidades financeiras, no trabalho, e com o desgaste físico e mental de tudo isto, o sexo será o vosso último pensamento.

O primeiro passo, o passo essencial, é falar. Falarem um com o outro sobre o que sentem e como podem os dois resolver o problema, e desviarem-se do caminho do desinteresse sexual. Se não existir um diálogo aberto sobre sexo (ou a falta dele) podem sentir-se desprezados ou ofendidos pelo parceiro e aumentar ainda mais a bola de neve. Precisam estar comprometidos em resolver isto. É preciso investir na vossa vida sexual como investem na vida familiar ou na carreira profissional.


Articulem a rotina de ambos e guardem tempo só para vocês. Para estarem sozinhos, jantar fora, ir ao cinema, ir para um motel, explorarem as fantasias eróticas um do outro. Saiam da rotina, saiam de vocês mesmos, dispam os papéis de mãe, de pai, de qualquer coisa.


O desejo sexual está relacionado com uma certa dose de mistério, com a sedução por parte do parceiro. Com uma rotina constante de automatização de tarefas e responsabilidades, é difícil que a intimidade excessiva não afecte o interesse sexual. Por isso, explorar a imaginação e a criatividade nesta fase das vossas vidas é uma opção para estimularem o desejo sexual.


Por norma, a mulher relaciona o sexo ao afeto, ao modo como é procurada, cortejada, e amada pelo parceiro. O sentimento de segurança e admiração do parceiro estimula a libido sexual feminina. Por isso, apoiar a parceira, elogiá-la, ser um pai presente e com iniciativa, manter-se como companheiro nos momentos bons e menos bons, irá melhorar a vossa vida sexual.


O homem é mais visual, mais direto, mais imediato. Gosta de sentir que a mulher se preparou e se arranjou para ele. Usar uma lingerie diferente ou mais provocante, um brinquedo erótico, uma chair dance, são estratégias motivadoras de interesse sexual.


Seja o que for, dependerá dos vossos gostos enquanto pessoas. Por isso conhecer o parceiro e falarem sobre a vossa vida sexual e sobre os vossos desejos é fundamental.


Se o sexo deixa de ser espontâneo? Quantas vezes. Quanta logística é necessária para criar (apenas criar) a oportunidade para que o sexo aconteça. Com quem fica o bebé, e em que dia pode isso acontecer. Depois quando finalmente criada a oportunidade, estão cansados de não dormir, não têm energia suficiente, não estão com a disposição para isso, ou o tempo é cronometrado e a expectativa de uma noite de amor (como antigamente) choca de frente com uma “rapidinha” mecânica que sabe a pouco.


Mas é necessário continuar a planear estes momentos para não se perderem enquanto mulher e homem, um para o outro. Em algum momento vai dar tudo certo e reencontrar-se-ão como dois seres sexuais, que merecem dar e receber prazer. Fazer sexo é tão essencial como beber água, comer, respirar, amar, conectarmo-nos com o outro. É uma das necessidades básicas da vida e não há qualquer vergonha nisso! Estão a redescobrir-se como pessoas, não só com a adição da nova faceta de mãe e pai, mas também como mulher e homem. Por isso é normal que a vossa vida sexual também seja alvo de alguma redefinição.


Para ti, o que é ser mulher depois de ser mãe?


Partilha a tua experiência. Vamos falar e desconstruir este tabu!

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