Estás grávida e já compraste aquelas primeiras roupinhas mesmo fofas, começaste a preparar a mala da maternidade, ou até a planear o futuro quarto do teu bebé. Mas diz-me… já organizaste a tua rede de apoio? Sim, vais precisar de uma. É hábito dizer-se que durante a gravidez deves preparar o ninho. Eu diria que também deves fazer a tua teia.

Ao longo da gravidez deves formar a tua teia, como faz a aranha. Uma rede em que incluas as pessoas que são próximas de ti, e que te vão ser essenciais para a fase que se avizinha. Pai, padrasto, mãe, avós, amigos, vizinhos. Todos e cada um que te possa ajudar, da maneira que lhes for possível, mas com o mesmo objetivo: o teu bem-estar e o do teu bebé.

Podes ter lido algures que “é preciso uma aldeia para criar uma criança”. Este provérbio africano não faz sentido apenas em populações pequenas e remotas em África, mas em qualquer parte do mundo. Ninguém está isolado - apesar de, por vezes, sentirmos isso enquanto mães - e todos dependemos uns dos outros, no seio familiar e em sociedade. Para uma amamentação mais tranquila e bem sucedida, um dos pontos fulcrais é isto mesmo. Teres uma rede de apoio, estruturada, compassiva e paciente que te auxilie.

O teu tempo e atenção vão estar centrados no bebé, pois este exige isso mesmo, é impossível ser de maneira diferente. Esteve tanto tempo dentro de ti, dependente de ti, é compreensível que ainda o seja após nascer. E tu ficarás cansada. Não conseguirás fazer o teu papel de filha, mãe, madrasta, companheira, amiga, profissional, dona de casa – seja o que for – como antigamente. Porque a realidade é que os meses seguintes serão muito exigentes. É caso para dizer “Não digas que não te avisei”.

Se não fores mãe de primeira viagem, já sentiste na pele o que estou a relatar. Com a chegada de um segundo ou terceiro filho, essa complexidade aumenta e ainda sentes maior necessidade de fazer, com antecedência, uma rede de apoio.

A amamentação não deve ser uma viagem que faças sozinha. Alguém que lave a loiça, que trate da roupa, do supermercado, do gato e do periquito; aumenta a licença de maternidade se te for financeiramente possível. Partilha as tuas tarefas com alguém, pois a única que não poderás dividir é a de amamentar o teu filho!

Mais do que um pássaro, sê uma aranha.

PROFISSIONAIS DE SAÚDE INCLUÍDOS

Esta rede não se restringe aos familiares e amigos. Durante a maternidade vais perceber que existem várias áreas interligadas, e a amamentação não é exceção. A extensão da rede de apoio a nível profissional é essencial. Quantos mais de nós remarmos para o mesmo lado, mais longe o barco chegará.

Cabe-te a ti procurares profissionais competentes e alinhados com a tua perspectiva, promovendo a amamentação. Não te conformes com menos do que isso. Tu e o teu bebé merecem.

Sei que, por vezes, te podes sentir como uma bolinha de pingue pongue entre os profissionais, que te dizem coisas diferentes e até contraditórias. Sempre existirão esses casos e tens que aprender a filtrar isso, a questionar, a procurar a fundamentação, a ser mais ativa na tua saúde e na do teu bebé.

É muito importante um profissional de aleitamento materno mater contatos de outros profissionais como médicos, enfermeiros, osteopatas, odontopediatras, terapeutas da fala, nutricionistas, etc. Assim podemos reencaminhar-te para o profissional mais adequado à tua situação, em consonância com o teu desejo de amamentar.

O objectivo principal dos profissionais de aleitamento materno é a saúde e o bem-estar do teu bebé e da tua família, por isso é fundamental manter esse foco, coordenar uma rede de profissionais qualificados, e trabalhar numa equipa multidisciplinar para o melhor acompanhamento possível. Este objetivo é, então, comum a todos os profissionais de saúde. Todos nós - profissionais de várias áreas - somos parceiros e não concorrentes. Devemos estar de mãos dadas e não de costas voltadas.

Só evoluímos se formos conscientes que a ciência muda, que se altera, que se atualiza, e com espírito crítico, mantermo-nos sempre abertos a novas aprendizagens.

Conversa com os profissionais que cruzam o vosso caminho, e redistribui as tarefas domésticas. Não consegues antever como será o pós-parto, mas é sempre desafiante e remodelará a tua dinâmica familiar. Conta com isso, e tenta perceber a real rede de apoio que terás. Nada é mais frustrante e desencorajador que constatar, depois, que não tens a rede de apoio que esperavas ter.

Sofia Roque Grilo, Equipa Leva-me ao Colo, 20 de junho de 2023