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OS PROFISSIONAIS DE SAÚDE DOMINAM A AMAMENTAÇÃO?

OS PROFISSIONAIS DE SAÚDE DOMINAM A AMAMENTAÇÃO?

OS PROFISSIONAIS DE SAÚDE DOMINAM A AMAMENTAÇÃO?



No Workshop “Quero amamentar o meu bebé”, que realizámos no início do mês de Junho, tivemos o feedback de muitas mulheres a referir que já saíram da maternidade com leite artificial. Um fato incontestável é que os bebés são, cada vez mais, inadvertidamente desmamados. Não por vontade da mãe, mas como consequência de medidas que nada favoreceram a continuidade da amamentação.


Confesso que continua a ser impactante perceber que existe tanta desinformação, tanto descrédito no desejo de a mãe amamentar, tão poucos recursos para auxiliar as famílias, que chega a ser frustrante para nós, enquanto profissionais da área.


Saber que, com outras condições, em outras circunstâncias, aquela mãe teria mais possibilidade de cumprir o seu sonho de amamentar, e que isso lhe foi privado… É um ponto muito complicado de gerir, é realmente triste isto acontecer. Por isso, quero-te mostrar a realidade, sem paninhos quentes, mas ao mesmo tempo, sem ferir susceptibilidades.



A verdade pura e crua é que a maior parte dos profissionais de saúde, com quem te cruzas ou cruzarás durante a gravidez, o parto e o pós-parto, não domina a área da amamentação.



Não é a minha opinião. Não é a opinião da equipa Leva-me ao Colo.

É a constatação de milhares de relatos de mães que passaram por essas situações. Não só das mães que acompanhamos, mas também de profissionais de saúde que, a dado momento das suas vidas, se tornaram também elas, mães, e adivinha?... Também tiveram dificuldades e confirmaram que, o fato de serem profissionais de saúde não significa que dominavam a amamentação. É o caso da Enfermeira Marta Pais.



TESTEMUNHO DE UMA RECÉM-MAMÃ ENFERMEIRA


“Sou enfermeira de cuidados gerais (…) acho que nós temos uma certa pressão da sociedade, que por nós sermos enfermeiros que sabemos tudo, que vai correr tudo bem. Claro que nós sabemos o básico, daquilo que damos na escola, mas eu sou enfermeira de cuidados gerais, como disse, não tenho nenhuma especialidade em aleitamento materno.”



Mesmo sendo enfermeira, a Marta tinha crenças erradas sobre a amamentação, comuns à maioria das mães que não trabalham na área da saúde, e que a levaram a não considerar necessário preparar-se para a amamentação que tanto queria.



“Sou mãe de primeira viagem, é o meu primeiro bebé e acho que todas as mães têm a expectativa que tudo vai ser maravilhoso, idealizamos que tudo vai ser perfeito. (…) A minha mãe amamentou-me em exclusivo. Acabei por mamar até aos dois anos e meio. E eu tinha essa expectativa para o meu bebé. Também gostava de ter essa partilha com ele, conforme a minha mãe teve essa partilha comigo. (…) Mas devido ao meu peso, à minha mama, que tem [algum] volume, tivemos uma certa dificuldade (deitada) em fazer a pega. (…) Então era… uma frustração, dar mama. Porque a gente pensa que mamar é inato, que o bebé nasce logo a saber mamar, vai ser tudo bem, mas não. Eu aprendi que é tudo uma aprendizagem.”


O bebé da Marta tinha dificuldades na pega, fez fototerapia, ela própria não percebia se ele estava a mamar o suficiente ou não. Estava cada vez mais ansiosa com toda a situação, continuando, depois em casa, a oferecer o leite materno extraído através de biberão, o que não contribui, de todo, para o bebé aprender a fazer uma boa pega na mama.


“Devido a isso tudo, tive que acabar por, lá mesmo durante a maternidade (…) fazer a extração do meu leite. Acabava sempre por, primeiro, lhe oferecer a minha mama, ver se ele conseguia pegar ou não. Se ele não conseguisse, acabava por lhe dar o biberão com o meu leite. Fiz isso religiosamente quando vim para casa (…) mas sempre com medo que o meu leite não era o suficiente.


Esta ideia negativa, este medo, afetou-a bastante, comprometendo as decisões que tomava: “Então esse medo acabou sempre por se apoderar de mim, tanto que acabei sempre por complementar o meu bebé, além do meu leite materno, por aleitamento artificial, o que também me custou um bocado, porque a minha expectativa de que tudo ia ser perfeito, que ele ia saber mamar, que ia ser só eu e ele, acabou por… ser deitado um bocadinho por terra, fiquei um bocadinho triste e desiludida, e sempre com este medo a apoderar-se de mim.”



Questionada sobre o que mudaria, se pudesse voltar atrás no tempo, respondeu: “Gostaria de ter-me aconselhado com um profissional especialista na área. Porque temos que perceber que não sabemos tudo, e que às vezes tem que se pedir ajuda, que embora esteja a falhar, há coisas que se podem solucionar.”



E ainda acrescentou: “(…) às vezes, aquilo que as outras pessoas de fora nos dizem, a gente também não pode acreditar em tudo, e muitas vezes até da parte da família sentimos uma certa pressão, e não nos podemos deixar levar por isso. Acho que o que eu tinha feito era também pedido mais aconselhamento, e não me deixar guiar pelo meu medo, porque agora olho para trás e realmente deixei-me apoderar desse medo, de não ser suficiente, mas se calhar se eu tivesse pedido ajuda, se calhar poderia ter… não sei (…) é uma coisa que eu me arrependo muito.”


Os desafios durante o percurso de amamentação são diversos e de várias etiologias, é tão importante a parte fisiológica, quanto a parte psicológica, e é preciso saber trabalhar todas elas, neste período de maior vulnerabilidade da mãe.


É essencial haver profissionais especializados em dar apoio à amamentação. Se esse apoio específico não se verificar nos primeiros momentos após o nascimento, na maternidade; ou durante o seguimento no centro de saúde, após alta hospitalar, podes e deves pedir uma segunda opinião.


Não te sintas coagida a não o fazer. O bebé é teu, a escolha é tua.

A equipa Leva-me ao Colo estará aqui, disponível para ti.

Se tu, que estás a ler este blog, queres realmente fazer diferente, garantir que dás o melhor alimento ao teu bebé, para que tu e ele consigam usufruir ao máximo desta fase que jamais se repetirá, pede apoio antes de o bebé nascer! Tornará tudo muito mais fácil.



Sofia Roque Grilo, Equipa Leva-me ao Colo, 13 de junho de 2023

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