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O QUE NINGUÉM TE CONTOU SOBRE A 1ª SEMANA DE VIDA DO RECÉM-NASCIDO

O QUE NINGUÉM TE CONTOU SOBRE A 1ª SEMANA DE VIDA DO RECÉM-NASCIDO

O início do pós-parto é uma fase muito desafiante que altera, definitivamente, a rotina da família. Mesmo que não sejam pais de primeira viagem, mesmo que já tenham um ou dois filhos, a adição de mais um exige mudança de hábitos já existentes. O recém-nascido tem uma grande demanda em relação há mãe, e por vezes, a mãe não está totalmente consciente dessa parte.


Por mais apoio que tenhas dos teus familiares, amigos e profissionais, é a ti que o bebé reconhece; és tu a ligação entre o mundo que ele conhecia e o mundo que agora começa a descobrir. Do útero para o novo mundo, és tu a sua segurança.


Somando o cansaço geral que irás sentir, o melhor é mesmo preparares-te para o que aí vem. Não te quero assustar. A maternidade não é só cor-de-rosa, tem muitas outras cores e é importante que tenhas consciência de todas elas. Neste sentido, digo-te o que deves esperar dessa semana irrepetível na tua vida!


ALIMENTAÇÃO


O teu bebé vai sentir fome pela primeira vez. Vai usar a boca para se alimentar pela primeira vez. O seu sistema digestivo vai experimentar uma alimentação intermitente (em vez de contínua) pela primeira vez. São muitas estreias em simultâneo e a Natureza teve isso em conta, criando mecanismos para uma transição gradual.


O bebé ingere pequenas quantidades de colostro – o primeiro tipo de leite materno – com frequência. No primeiro dia de vida do bebé, a capacidade do seu estômago ronda os 20 ml, mas em cada mamada é normal que não ingira essa quantidade na totalidade, daí ser necessário oferecer mama frequentemente. Para teres uma noção, o bebé mama cerca de 8 a 12 vezes, em 24 horas.


Atenção: muitos profissionais de saúde não se especificam na área da amamentação e acabam por dar a indicação de que o bebé precisa de leite artificial nestes primeiros dias. São poucos os casos em que, após avaliação detalhada é, realmente, necessário fazê-lo. No primeiro dia de vida não existe necessidade de oferecer leite artificial. O que o bebé precisa é de tempo para se adaptar. Tempo é a palavra-chave!


Deves evitar mais de 3 horas de intervalo entre as mamadas no primeiro mês de vida

ou até que recupere o peso de nascimento. O mito das 3 horas que ouves falar teve origem com o leite artificial (também designado como fórmula infantil ou suplemento artificial). O leite materno é mais leve e mais facilmente absorvido pelo sistema digestivo do bebé que o leite artificial. Em contrapartida, a fórmula infantil é um produto fabricado industrialmente, complexo de digerir, mais pesado, e neste caso são necessárias, sim, as 3 horas para uma digestão completa.


Não existindo um horário específico para alimentares o teu bebé, como saberás quando lhe deves oferecer mama? A resposta é tão simples que nem vais acreditar: sempre que ele quiser, sempre que ele der sinais de que está disponível para mamar. A isto se chama livre demanda. Ou seja, amamentares sempre que o teu bebé "pedir". Sem horários pré-estabelecidos, sem marcação, sem imposição, sem stress.


Nos primeiros tempos, e ainda mais em caso de recém-nascido muito sonolento, prematuro, ou de baixo peso, por exemplo, deves ter maior atenção. Muitas vezes é preciso despertá-lo para mamar, caso não demonstre nenhum sinal de fome num intervalo superior a 3 horas. Assim, as 3 horas servem-te de guia, para orientação, mas não para imposição de horários de amamentação.


Ele alimentava-se continuamente antes de nascer, o seu estômago suporta pequenas quantidades e o leite materno é de fácil digestão, por isso deverás amamentar o teu bebé muitas vezes ao longo do dia e da noite.


O BEBÉ AVISA QUE TEM FOME


Tu não saberás quando o bebé tem fome, nem quando já estiver “atestadinho”, mas ele sabe. Não te irá verbalizar o pedido, mas dará sinais de fome e sinais de saciedade para te comunicar ambas as situações, mesmo enquanto dorme!


Os sinais de fome são: aumento dos movimentos dos olhos; abrir a boca, exteriorizando a língua; virar a cabeça de um lado para o outro à procura da mama; chuchar ou morder as mãos, dedos, mantas ou outros objetos; e, em última instância, chorar.


O choro é um sinal tardio de que algo não está bem, por isso não deves esperar por esse sinal. Antes de chorar, o bebé já mostrou os outros sinais de que quer comer, mas a grande maioria dos cuidadores não está desperto para eles. Para além de que chorar é ambíguo e nem sempre pode significar fome. Os bebés também choram por desconforto (sujo, com calor ou frio), cansaço (excesso de estímulo), cólicas, doença ou dor. Basicamente, por tudo e mais alguma coisa. Se achas que o choro é de fome, acalma-o primeiro ao colo antes de lhe ofereceres mama.


Os sinais de saciedade também são bem visíveis. No início da mamada o bebé tem o corpo tenso e as mãos fechadas. À medida que mama e fica saciado, o seu corpo vai relaxando e as mãos vão abrindo. A maioria dos bebés larga a mama quando está satisfeito, mas alguns continuam a fazer sução não nutritiva, de modo suave e curto, até adormecerem.


SONO DO BEBÉ


O recém-nascido é tendencialmente mais dorminhoco nos primeiros tempos. Ainda acha que está dentro da tua barriga e tem o mesmo comportamento cá fora que tinha lá dentro. De fato, ele só começa a perceber que é um ser fisicamente diferente de ti pelo 3º mês de vida, e é por isso que esses meses se chamam de 4º trimestre ou período de exterogestação (como se a gestação continuasse fora do útero).


Esta sonolência pode ser difícil de gerir porque nestas alturas o recém-nascido não está tão desperto para manifestar os sinais de fome nem para mamar. Caso o teu bebé seja muito dorminhoco, deves despertá-lo, para garantir que a mamada é o mais eficaz possível.


Para isso, deves retirar mantas e roupas para permitir a movimentação dos braços e pernas; fazer cócegas nos pés, nas mãos e nas orelhas do bebé, com a intenção de o acordar; passar uma toalhita ou uma compressa fria na cara, nas mãos e nos pés; aumentar a luminosidade do espaço onde o vais amamentar; amamenta-lo numa posição mais vertical (posição cavalinho/cavaleiro).


Outra particularidade do recém-nascido é que ele não faz diferenciação entre o dia e a noite. Durante a gestação, embalas o teu bebé durante o dia dentro da tua barriga, enquanto caminhas e fazes o teu quotidiano normal, e por isso ele dorme. Quando chega a noite, ele fica mais alerta e ativo porque o movimento de embalo pára enquanto tu descansas.


Assim, é comum dizer-se que os bebés têm o sono trocado e acabarem por mamar mais durante a noite do que durante o dia. Esse ritmo mantém-se nos primeiros meses e pode tornar as noites bastante exigentes. Fazer cama compartilhada, amamentar deitada e descansar nos momentos em que o bebé dorme são dicas preciosas para ultrapassar esta fase.


CHICHIS E COCÓS


O sistema gastrointestinal do recém-nascido funciona pela primeira vez e precisa de tempo para se habituar. É normal que permaneça a dúvida sobre com que frequência o bebé deve fazer chichi e cocó.


Nos primeiros dois dias, deves encontrar, pelo menos, 1 a 2 fraldas molhadas; no terceiro dia, 3 ou mais fraldas; e no quarto e quinto dia, 5 ou mais fraldas. O leite materno é composto por água, é através dele que o bebé se hidrata, por isso, ao fazer chichi, consegues perceber que as mamadas foram eficazes e que ingeriu, realmente, alimento.


A frequência do cocó é semelhante: no primeiro e segundo dias, pelo menos, 1 ou 2 vezes; e a partir do terceiro dia, 2 ou mais vezes. Para além da frequência é importante avaliar a cor do cocó. Nos primeiros três dias, o cocó é de cor muito escura, espesso e pegajoso, chama-se mecónio. São restos de células que o bebé elimina do seu organismo. Depois vai variando em vários tons esverdeados e amarelados até ficar de cor castanha.


A frequência dos cocós dependerá da maturidade dos intestinos do bebé e se é alimentado com leite materno ou leite artificial. Com leite materno, é normal se o bebé fizer cocó cada vez que mama, mas também é normal permanecer alguns dias sem fazer (por o leite materno ser totalmente absorvido).


DESCIDA DO LEITE


Em média, entre o terceiro e quinto dia após o parto dá-se a descida do leite. Sentes as mamas mais cheias, mais pesadas, maiores e mais sensíveis. A produção de leite ainda não está regulada às necessidades do teu bebé. A partir daqui é que o teu corpo vai adequar a produção de leite, dependendo das vezes que o bebé for à mama. Não se manifesta de igual forma em todas as mães, umas podem sentir mais que outras.


Se nesta fase o bebé não extrair leite adequadamente das tuas mamas, a situação pode evoluir de forma menos positiva, por isso deves estar atenta e consultar um profissional especializado na área da amamentação ao mínimo sinal de vermelhidão, tensão, dor na mama, ou dificuldade do bebé em abocanha-la.


Como vês, o teu recém-nascido tem muito a aprender nos primeiros dias, e a família também. Será essencial muita paciência, muito amor, e apoio efetivo. Prepara-te enquanto ainda estás grávida, e poderás desfrutar desta primeira semana com mais tranquilidade.


Sofia Roque Grilo, Equipa Leva-me ao Colo, 19 de Setembro de 2023

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