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AMAMENTO. O QUE NÃO POSSO COMER?

AMAMENTO. O QUE NÃO POSSO COMER?

Se estás a amamentar, de certeza que já te disseram, em algum convívio natalício que envolve comida, que não podes comer isto ou aquilo. Se ainda não foste alvo deste tipo de observações, prepara-te, que elas irão chegar. Já ouvimos esses mitos alimentares de forma geral, mas na época das festividades, ainda ouvimos com mais frequência.


Há muito a noção de que a mãe que amamenta tem muitas restrições alimentares, mas não é essa a realidade. Podes e deves comer de tudo um pouco. Deves ter uma alimentação saudável, variada e equilibrada como toda a gente deveria ter. Sem privações e sem excessos.


O cuidado que deves ter não é evitar comer determinado alimento, mas sim comê-lo e ficares atenta a possíveis reações que possam ocorrer no teu bebé. Conhece-lo bem, por isso vais identificar se houver alguma mudança, alguma possível reação.


Ao comer alimentos diferentes enquanto amamentas, conseguirás identificar, precocemente, se o teu bebé faz reação a algum deles e terás a oportunidade de lidar com a situação desde cedo. Se não te sentires segura, podes sempre ser acompanhada por um nutricionista.


“QUE PENA, NÃO PODES COMER MARISCO!”


O camarão, por exemplo, muito consumido nestas festividades, é altamente nutritivo e rico em ómega 3. Podes comer, sim. Este mito foca-se mais no marisco, mas quem diz marisco, diz vários tipos de peixes. E no entanto, já reparaste que não há indicação de se deixar de comer peixe quando se amamenta…?


O marisco e outros peixes não precisam ser excluído da tua alimentação se estiveres a amamentar. O que acontece é que deves moderar as quantidades que ingeres, devido a duas situações: a possibilidade de causar reações alérgicas ao bebé, tal como outros alimentos (e quanto mais cedo te aperceberes, melhor); e a acumulação de mercúrio nos peixes, pois o mercúrio, em grandes quantidades apresenta toxicidade para o sistema nervoso central do bebé.


“SE COMERES ISTO, PROVOCAS CÓLICAS NO BEBÉ”


É comum pensar-se que a mãe não deve comer verduras e legumes, como o grão, o feijão, a couve, os brócolos, ou até as castanhas, para não causar cólicas ao bebé.


É um mito muito comum que precisa ser esclarecido. As fibras presentes nestes alimentos contribuem para o bom funcionamento do intestino, dão a sensação de saciedade e diminuem a absorção de colesterol, gordura e açúcar.


No entanto, como as fibras não são absorvidas, acumulam-se nos intestinos e provocam cólicas na pessoa que as comeu. Como não são absorvidas pela mãe, não passam para o leite materno, e por isso não têm qualquer efeito no bebé.


O que não te explicam sobre as cólicas é que ocorrem entre 8 a 40% dos bebés; que são muito associadas ao fim de dia; que o bebé pode ter um choro inconsolável por mais de 3 horas, com mais de 3 crises por semana; e que vão muito além de uma dor de barriga. As cólicas que incomodam os bebés devem-se, sobretudo, à imaturidade individual do seu próprio intestino e controlo do esfíncter, sendo que nos primeiros meses ainda têm bastante dificuldade em digerir o leite, mesmo que seja o leite materno.


Outros aspetos podem contribuir para o aumento de cólicas, como uma pega inadequada que deixa entrar ar enquanto mama, o excesso de cafeína ingerida pela mãe, ou o excesso de estímulos (quando o bebé não tem uma rotina estabelecida, não conseguindo descansar corretamente).


Não há evidência científica sobre estes alimentos provocarem mais cólicas. Apenas os lacticínios e derivados do leite poderão estar realmente relacionados com o aumento de cólicas no bebé (para isto sim, há evidência científica). Podes fazer o teste: não consumir este tipo de alimentos durante pelo menos 1 semana, e ver como o teu bebé reage em relação às cólicas.


“BEBIDAS COM GÁS TAMBÉM ESTÃO FORA DE QUESTÃO!”


Na mesma linha, aconselham-te a não beberes nada com gás, porque aumentas as cólicas no teu bebé. Como já expliquei, para se encontrar no leite materno tem que ser absorvido e passar pela corrente sanguínea. Os teus gases e os gases das bebidas carbonatadas permanecem no teu sistema digestivo (não passam para a corrente sanguínea) por isso, nada têm a ver com as cólicas dos bebés! Apenas tu poderás ter mais cólicas.


QUEM QUER CAFÉ? AH… TU NÃO PODES!”


Terminas a refeição e apetece-te aquele café no final, a cereja no topo do bolo. Mas alguém te diz que não podes, porque estás a amamentar! Poder podes, explico-te como.


Estando a amamentar, é seguro consumir até 300 mg de cafeína, o equivalente a 2 ou 3 cafés (Lauwers& Swisher, 2015). A quantidade de cafeína que passa para o leite materno é mínima, e atinge o seu pico cerca de 1 a 2h após a sua ingestão. Por isso deves ter em conta este tempo para gerires quando será a melhor altura para tomares o teu café.


Ressalvo que se o bebé tiver menos de 6 meses, poderá ser mais sensível ao consumo de cafeína; e que a cafeína não está presente somente no café, mas sim também em muitos outros alimentos, como chá verde, chá preto, descafeinado, chocolate.


“DEIXA A DIETA PARA DEPOIS, AGORA ESTÁS A AMAMENTAR!”


Por um lado, proíbem-te de comer tudo e mais alguma coisa, sem fundamentação científica, mas por outro, afirmam que não podes fazer dietas com o objetivo de perder peso, porque os alimentos são muito importantes para o bebé e não podes “cortar” na alimentação do bebé. Sou só eu que noto aqui alguma contradição?


Claro que dietas “malucas” e sem acompanhamento adequado são totalmente desaconselhadas em qualquer momento da vida da mulher, muito menos quando através dela é veiculado o alimento para o seu bebé. Um consumo inferior a 1500-1800 calorias/dia pode colocar, de fato, a produção de leite materno em risco. Nada te proíbe de cuidares de ti e de emagrecer, se esse for o teu desejo, mas é essencial seres acompanhada por um nutricionista, preferencialmente evitando dietas líquidas e medicação, para não comprometer a alimentação do teu bebé.


É importante considerar dois aspetos importantes: que uma mãe a amamentar em exclusivo necessita, em média, de 300 a 500 calorias a mais em relação às que consumia para manter o peso que tinha antes da gravidez; e que, para realizar uma dieta com o objetivo de perder peso enquanto amamentas, recomenda-se aguardar até o bebé ter 2 meses de vida, porque o teu corpo precisa desse tempo para estabelecer a produção de leite materno.


No ato de amamentar queimas cerca de 200 a 300 calorias/dia. Mesmo sem fazer dieta, já estás a queimar calorias extra! Assim, amamentar com frequência e durante mais de 6 meses ajuda a emagrecer. Até nisso a amamentação é benéfica para a mulher!

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